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sexta-feira, 23 de março de 2018

A INDUSTRIA FARMACÊUTICA

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CRIME ORGANIZADO?

"É assustador quantas similaridades existem entre essa indústria e as quadrilhas criminosas. As quadrilhas produzem quantidades obscenas do dinheiro, assim como essa indústria. Os efeitos colaterais do crime organizado são matanças e mortes, e os efeitos colaterais são os mesmos nessa indústria.

As quadrilhas subornam políticos e outros, e assim faz a indústria farmacêutica… A diferença é que todas essas pessoas na indústria farmacêutica se enxergam ‒ bem, eu diria 99 por cento, de qualquer maneira – se enxergam como cidadãos cumpridores da lei, não como cidadãos que assaltariam um banco…

No entanto, quando se juntam como um grupo e controlam essas corporações, algo parece acontecer… aos bons cidadãos em outras circunstâncias quando fazem parte de um corporação.

É quase como quando você tem atrocidades de guerra; as pessoas fazem coisas que você não pensa que são capazes de fazer. Quando você está em um grupo, as pessoas podem fazer coisas que, de outra maneira, não fariam, porque o grupo pode validar como certo o que você está fazendo. "


Quando um crime levou à morte milhares de pessoas, devemos encará-lo como um crime contra a humanidade. Não deve fazer diferença para nossa percepção de delito se foram mortos por armas ou por comprimidos. Porém, até recentemente, havia uma notável complacência até mesmo com crimes letais. Isso pode estar perto de mudar, pelo menos nos Estados Unidos. Em 2010, o Departamento de Justiça condenou um exvice-presidente da GlaxoSmithKline.

É COISA DO PASSADO. . .

Uma das respostas-padrão da indústria farmacêutica quando os escândalos são revelados na mídia é que suas práticas mudaram radicalmente desde que os crimes foram cometidos. Isso não é verdadeiro; de fato, os crimes estão aumentando de forma aguda. De acordo com o Grupo de Pesquisa em Saúde da Public Citizen, três quartos dos 165 encerramentos de processo compreendendo 20 bilhões de dólares em penalidades durante o intervalo de 20 anos, de 1991 a 2010, ocorreram apenas nos cinco últimos anos daquele período.93 Uma atualização mostrou que em apenas 21 meses, até julho de 2012, 10 bilhões de dólares adicionais em acordos foram alcançados.

Ao contrário da indústria farmacêutica, os médicos não prejudicam seus pacientes deliberadamente. E quando causam dano, seja por acidente, falta do conhecimento ou negligência, prejudicam apenas um paciente de cada vez. Como as ações de executivos sênior na indústria de medicamentos têm o potencial de prejudicar milhares ou milhões de pessoas, seus padrões éticos devem ser muito mais elevados do que aqueles dos médicos, e a informação que fornecem sobre seus medicamentos deve ser tão verídica quanto possível depois de exame meticuloso e honesto dos dados. Nada disso é o caso, e quando os jornalistas perguntam-me o que eu penso dos padrões éticos da indústria farmacêutica, com frequência faço piada sobre isso e digo que não tenho resposta alguma, pois não posso descrever o que não existe. O único padrão da indústria é o dinheiro e a quantidade de dinheiro que você ganha para a empresa decide o quão bom você é. Há muitas pessoas decentes e honestas na indústria de medicamentos, no entanto aqueles que chegam ao topo foram descritas como “bastardos implacáveis” pelo criminologista John Braithwaite, que entrevistou muitos deles. 

Nos Estados Unidos, as grandes empresas farmacêuticas superam todas as demais indústrias em termos de crimes. Elas têm mais do que o triplo de violações sérias ou moderadas à lei que outras empresas, e esse recorde é mantido mesmo após ajuste por tamanho da empresa. 

 SUBORNO

As grandes empresas farmacêuticas também têm um recorde pior do que outras empresas para suborno e corrupção internacional e para negligência criminosa na fabricação insegura de medicamentos.12 Em um período de cinco anos, de 1966 a 1971, a FDA recolheu 1.935 produtos medicamentosos, 806 devido a contaminação ou adulteração, 752 devido a sub ou superpotência e 377 devido a rótulos misturados.

O suborno é rotineiro e envolve grandes quantidades de dinheiro. Quase todos os tipos de pessoas que podem afetar os interesses da indústria foram subornados: médicos, administradores de hospital, ministros de Estado, inspetores de saúde, autoridades alfandegárias, avaliadores de tributação, autoridades de registro de medicamentos, inspetores de fábrica, autoridades para definição de preço e partidos políticos. Na América Latina, cargos como ministros da saúde são avidamente procurados, pois esses ministros são quase invariavelmente ricos com a riqueza proveniente da indústria de medicamentos.

No começo deste capítulo, perguntei se estamos enxergando uma ou outra maçã podre solitária ou se o cesto todo está cheio delas. O que estamos vendo é crime organizado em uma indústria que está completamente errada. (Pág 101-102)



MÉDICOS E PACIENTES


O viés introduzido por cegamento insuficiente pode ser agravado pelo fato de médicos e pacientes nem sempre fazerem o que se espera deles. Em geral, os psiquiatras são pagos por paciente registrado e podem não se dar o trabalho de passar por todos os itens da escala de depressão de Hamilton com o paciente, pois é demorado. Na prática, alguns podem usar sua impressão geral para marcar alguns dos itens sem ter perguntado ao paciente ou marcar mais tarde com base na memória.

Alguns pacientes participam de ensaios sobre depressão sem estarem deprimidos apenas para receber o dinheiro, conforme uma pessoa saudável disse a um médico em uma viagem de trem:
Não estou deprimido… os ensaios são anunciados, o melhor paga em torno de 100 libras por dia aos voluntários. Por um ensaio de 20 dias são 2.000 libras… é legal encontrar seus amigos de sempre.” (Pág 120 - Boyd R. A view from the man in the seat opposite. BMJ. 1998; 317: 410.)


UNIVERSIDADES

Uma pesquisa de 2005 foi particularmente chocante. Mostrava que 80% das faculdades de medicina permitiriam um acordo para ensaio multicêntrico que concedesse a propriedade dos dados ao patrocinador e 50% permitiriam que o patrocinador redigisse os resultados para publicação e deixariam que os pesquisadores revisassem o manuscrito e sugerissem revisões. A propriedade dos dados era um problema difícil; 25% responderam que as negociações eram muito difíceis.
Mesmo depois que o contrato tinha sido assinado, 82% das faculdades de medicina haviam experimentado dificuldades em um período de cinco anos e, em um caso, o patrocinador recusou-se a enviar o pagamento final porque não gostou dos resultados! (Pág 132 - Mello MM, Clarridge BR, Studdert DM. Academic medical centers standards for clinical-trial agreements with industry. N Engl J Med. 2005; 352: 2202–10.)

Em 1980, 32% das pesquisas biomédicas nos Estados Unidos eram financiadas pela indústria e, em 2000, o percentual era 62%.21 Atualmente, a maioria dos ensaios é patrocinada pela indústria, tanto na União Europeia como nos EUA. No entanto, a proporção dos projetos da indústria que chega aos centros médicos acadêmicos diminuiu muito, de 63% em 1994 para 26% em 2004. Hoje, são principalmente as empresas privadas, as chamadas organizações de pesquisa por contrato (OPCs), que realizam ensaios, e algumas delas trabalham também com marketing e publicidade; outro sinal de que os ensaios da indústria são estratagemas de propaganda.


Para competir com as OPCs, os centros médicos acadêmicos instalaram escritórios de ensaios clínicos e cortejaram abertamente a indústria, oferecendo os serviços de seu
corpo clínico e o acesso fácil a pacientes. Assim, em vez de combater a corrupção da integridade acadêmica, os pesquisadores acadêmicos participam de uma corrida ao
fundo do poço da ética, tornando cada vez menos provável que qualquer um de fora consiga examinar os dados.

Os médicos aceitaram que já não são mais parceiros na empreitada da pesquisa clínica e passaram, simplesmente, a fornecer pacientes para os ensaios, em troca de publicações e benefícios variados, sobretudo apoio financeiro que pode ser usado para outras pesquisas na clínica ou como uma fonte para a economia privada do médico. Os especialistas podem receber cerca de 42 mil dólares pelo ingresso de um paciente em especialistas podem receber cerca de 42 mil dólares pelo ingresso de um paciente em um ensaio, o que foi descrito pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA em um relatório com o expressivo título Recruiting Human Subjects: pressures in industry-sponsored clinical research [Recrutando Sujeitos Humanos: pressões na pesquisa clínica patrocinada pela indústria]. Com uma quantidade de dinheiro tão copiosa em jogo, é difícil acreditar que os pacientes nunca sejam coagidos a participar. (Pág 135)


ENSAIOS CIENTÍFICOS PUBLICADOS


Nossos periódicos mais prestigiados têm um sério conflito de interesse quando lidam com ensaios da indústria . . .
(Pág 147 - Capítulo 6 - Conflitos de interesse em periódicos médicos)



Existe uma cultura entre os médicos que permite a aceitação de dinheiro fácil,2-14 e
as empresas podem oferecer a transferência de dinheiro de maneiras que não podem ser
rastreadas.15 Em 2006, a Transparecy International enfocou o setor da atenção à saúde
em seu Relatório de Corrupção Global, que não deixava dúvida de que existe
corrupção disseminada na atenção à saúde. Em geral, é a indústria farmacêutica que
toma a iniciativa, mas médicos, ministros e outras autoridades governamentais às vezes
extorquem as empresas.7

As gigantes farmacêuticas têm muitos amigos em posições elevadas. Quando uma
pessoa do Gabinete do Inspetor Geral da Pensilvânia havia descoberto pagamentos em
uma conta clandestina da Pfizer e Janssen, ele foi indicado como investigador
principal. . . 


 

O QUE MILHARES DE MÉDICOS FAZEM NA
FOLHA DE PAGAMENTO DA INDÚSTRIA?

A verdade é que a maioria dos médicos ajuda as empresas na comercialização de
seus produtos. Isso fica claro se olharmos as 4.036 funções que os médicos
dinamarqueses tinham em 2010 (veja a Tab. 8.1).1 Havia 1.626 pesquisadores, que era
a função mais comum. Entretanto, o progresso verdadeiro no tratamento medicamentoso
é muito raro. Em 2009, a Prescrire analisou 109 novos medicamentos ou indicações: 3
foram considerados uma descoberta terapêutica menor, 76 nada acrescentaram de novo,
e 19 foram considerados um possível risco à saúde pública.2 Outros estimaram que 11-
16% dos medicamentos novos representam um ganho terapêutico,3 mas isso era com
definições muito generosas do que é um ganho; se os ganhos e os ensaios por trás deles
fossem examinados mais de perto, não sobraria muita coisa.

(Medicamentos Mortais e Crime Organizado - Como a Indústria Farmacêutica Corrompeu a Assistência Médica (2016)



Peter C Gøtzsche
Médico dinamarquês, pesquisador médico e líder do Nordic Cochrane Centre do Hospital Riget, (Hospital Nacional da Dinamarca) em Copenhague. Ele foi co-fundador e escreveu várias revisões dentro da “Cochrane Collaboration”. Especialista em Medicina Interna. Trabalhou na Industria Farmaceutica entre 1975 e 1983. Professor de pesquisas clínicas em 2010 na Universidade de Compenhagem.

Livros deste autor:

- Rational Diagnosis And Treatment: Evidence-Based Clinical Decision-Making (2007).
- Peter C Gøtzsche . Mammography Screening: Truth, Lies And Controversy (2012).
- Medicamentos Mortais e Crime Organizado - Como a Indústria Farmacêutica Corrompeu a Assistência Médica (2016) - Original: Deadly Medicines And Organised Crime: How Big Pharma Has Corrupted Healthcare (2013).
- Deadly Psychiatry And Organised Denial (2015).


O livro citado acima tem 557 páginas de informações documentadas da atuação da indústria farmacêutica através dos anos.
Mostra com detalhes as diversas maneiras de manipular estudos "científicos" para mostrar o que a indústria quer e assim parecer estudo sério.
Na verdade são chocantes! Vale a pena ler ele todo.

CONHEÇA O Dr Peter Gøtzsche

LER O LIVRO

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