A
FELICIDADE
Existe um
conceito bastante infeliz a respeito do significado da real
Felicidade.
As pessoas
aprenderam a pensar que poderão ser felizes um dia no futuro.
Também, elas se acostumaram com a ideia de que algo vai mudar em
suas vidas, e daí, poderão usufruir a Felicidade.
A felicidade
passou a estar vinculada a empreendimentos sempre futuros.
“Quando eu
tirar a carteira de motorista, poderei ter meu carro, ir para onde eu
quiser, com quem eu quiser”.
“Quando eu
comprar o carro que tanto sonho, serei bem feliz”.
“Quanto eu
tiver minha casa própria, a minha felicidade estará completa”.
“Quando eu
achar o príncipe encantado, tiver meus filhos serei feliz de
verdade.
Assim, a
felicidade passa a ser um alvo almejado que sempre jaz no futuro.
Quando o
futuro chega, a pessoa consegue adquirir seu bem, seja o carro ou o
príncipe, ela nota que a alegria de usufruir um bem recém-adquirido
é grande, mas não preenche sua vida como ela sempre pensou.
A felicidade
parece ser enorme no começo, mas depois de um tempo os sonhos se
renovam, e passa-se a almejar algo melhor ainda.
“Quando eu
trocar meu carro por um melhor, dos meus sonhos, serei, sim bem
feliz”.
Como o carro
sempre ficará velho e ultrapassado, a felicidade será por pouco
tempo, pois, estará vinculada à próxima adquisição.
O mesmo se dá
com o ‘príncipe’. Algumas pessoas casadas já por um certo
tempo, reclamam de sua vida e separam-se achando que um dia um
verdadeiro ‘príncipe’ aparecerá em sua vida. Esquecem-se que já
houve um príncipe e que este já não é mais.
A felicidade
persiste em estar lá na frente, no futuro, que hoje é inalcançável.
E quando chega este futuro, o objeto que estava ligado a tal
felicidade não demonstra ser toda aquela alegria que a tal
felicidade deveria proporcionar.
Por isto
aprendi a alcançar a Felicidade. Não deixo para tê-la no futuro.
Aprendi a dar
valor às coisas poucas e pequenas de minha vida. Passei a amar o que
tenho. Se bem material, barato ou caro, usufruo da melhor maneira com
muito contentamento.
Não preciso
ligar a minha felicidade a um carro que terei no futuro, pois se
tenho minha bicicleta, prezo-a como um bem precioso. Vou a todas as
partes da cidade em menos tempo que um carro, não gasto gasolina,
não poluo o ar, faço exercícios, pedalo assobiando e usufruindo a
natureza ao meu redor. Minha cidade parece mais bela, aprecio as
montanhas, observo os céus, as nuvens, o pôr do sol. Não penso nos
dias de chuva, mas nos tempos bons para andar de bicicleta. Depois
que comprei o carro, ainda saio muito de bicicleta.
O ‘príncipe’,
que no meu caso foi ‘princesa’, eu transformei-a em uma rainha.
Trato-a como uma princesa. Mesmo quando está nervosa, irracional,
nos dias ruins, tenho paciência, falo o menos possível, sabendo que
em outros dias ela estará com outra disposição, alegre e feliz,
inclusive colaborativa comigo. O respeito que concedo a ela, ganho de
volta sempre.
Se o meu
tênis, ou minha roupa, não pode ser de marca, me lembro que muitos
não têm o que vestir, então o pouco que tenho certamente é lucro.
Quando vou me comparar a alguém, jamais me comparo a alguém que tem
mais que eu, mais talento, mais dinheiro, mais bens, ou seja o que
for; isto me daria razões para pensar que não sou feliz como
deveria e que eu poderia ser se conseguisse adquirir o que eles têm.
A verdade é
justamente o oposto disto. Talvez eles tenham muito mais que eu, mas
ainda não tenham aprendido a serem felizes com o que têm. Coisa que
eu já aprendi.
Comparo me às
vezes com aqueles que têm menos que eu. Vejo então que tenho todas
as razões para ser muito feliz.
Aprendi a dar
valor a coisas aparentemente insignificantes. Quando passo por um
jardim, aprecio as pequenas flores, os detalhes. Quando leio um
livro, coisa que tanto o rico como o pobre podem usufruir com
alegria, viajo e usufruo das pequenas descrições do que quer que
seja.
Mas é na
presença de pessoas que posso entender o quanto posso ser feliz
agora. Quando compartilho o que tenho com outro, certamente a
felicidade sorri para mim. Pessoas não se tocam que ao dar um bom
dia, um elogio, um pequeno conselho, ou simplesmente trocar algumas
palavras agradáveis, poderiam fazer disto um motivo para ser feliz.
Talvez não se
aperceba que a mera presença duma pessoa, boa ou má, é importante
para nós. Mas quando esta pessoa se vai, deixa de estar conosco
nesta vida, todos ficam chocados, tristes, amedrontados. Mas talvez
não tenham aproveitado enquanto viva, para trocar palavras
amigáveis.
Quando está
em nossa mão fazer algum bem a outros, seja em razão de nosso
trabalho, seja em razão de nossa experiência, ou por algum talento
que tenhamos, deveríamos fazer tal ação bondosa por dois motivos:
a pessoa será beneficiada com uma ação nossa, quem sabe o bem que
isto possa produzir hoje ou mesmo no futuro. Mas também, o que é
mais importante, o bem que produzimos a nós mesmos. Mesmo que não
faça a menor diferença na vida de outra pessoa o que fizemos para
beneficiá-la, certamente nós teremos razões para estar contentes
com nós mesmos.
Penso no
inverso disto. Quando alguém me prejudica. Quando me privo de fazer
o bem por alguma coisa que outra pessoa fez deixando de ser
merecedora de meu carinho. Pensar no assunto causa entristecimento
para meu coração, para meu animo. Falo inevitavelmente a outros,
compartilhando de experiência ruim com outros. Quantas mais vezes eu
falo, mais este conceito negativo me afeta mesmo sem perceber. Parece
que eu quero que as pessoas saibam do meu sofrimento, parece que
quero que saibam que aquela pessoa é má, quero acabar com a
reputação dela. E outras pessoas podem absorver este conceito ruim
que só faz mal a todos. A pessoa que me fez mal fica bem, e eu, que
achei ter sido prejudicado, prejudico ainda mais mim mesmo,
acrescento mais dor a mim mesmo. Sem perceber mantenho em mente a
coisa má, perpetuo as mágoas no coração, causo dano a mim mesmo.
Em pouco tempo, enveneno meu ambiente e pessoas que me cercam.
Fazendo o
inverso, destruímos os efeitos do ciclo negativo. Se um motorista me
corta a frente na ida para o trabalho, tenho a opção de xingá-lo,
falar mal dele no trabalho para colegas, e, em casa, para familiares.
As pessoas ao me ouvir, falarão das mesmas coisas, acrescentando
experiências ruins em minha cabeça. Mas se logo após o tal me
‘fechar a frente’ no transito, eu consigo me manter calmo,
segundos depois esqueço o que aconteceu. O acontecimento não me
afeta em nada, nem outras pessoas ficam sequer sabendo do ocorrido.
O
acontecimento no transito poderia ser uma palavra rude, uma ação
desagradável, uma notícia ruim ou situação desconfortável. Não
me deixo entristecer, nem estresso outros. Consigo esquecer o assunto
em pouco tempo depois e este não me perturba nem me afeta em nada.
Se faz calor
me alegro; praia, menos roupa, passeios. Se faz frio me alegro
também, tenho outras oportunidades valiosas que só com o frio se
apresentam. Notei que as pessoas acham ruim quando chove ou está
frio. Vem o calor e reclamam que está quente.
Outra coisa
que me recusa deixar que me pegue é o estresse. Sempre calmamente,
paro a minha mente e me esforço conscientemente a não me deixar
ficar estressado. Faço isto também quando pessoas estressadas ao
meu redor querem, sem perceber, me levar junto neste buraco negro,
nesta roda de agitação que tudo tem que ser para ontem. Respiro e
faço calmamente o que tem que ser feito.
Existem muitas
coisas que me deixam realmente feliz. As coisas mais simples, que são
aliás, as coisas mais belas.
Tudo isto
parece muito bom, mas não é nenhuma novidade. Todo mundo já sabe
de tudo isto.
O caso porém,
é conseguir manter este ponto de vista quando ao nosso redor pessoas
persistem em manter um ponto de visto exatamente oposto.
Mas, de vez em
quando aparece momentos realmente tristes. No entanto, há pessoas em
situações muito mais difíceis da que a minha. Muito mesmo. Mães
que cujos filhos sumiram, escravos de sistemas políticos radicais,
pessoas que perderam seres amados na morte ou que ficaram com graves
sequelas em seus corpos. Pessoas que, em desespero, se suicidam.
Parece-me que,
quando eu estou numa situação bastante triste, ainda assim acharei
muitas razões para estar alegre. Com certeza poderia ser pior.
Ademais, toda vez que acontece alguma coisa ruim em nossa vida, este
mesmo acontecimento poderá fazer a diferença mais tarde se
aprendemos algo disto. Estaremos melhor preparados para futuras
situações parecidas, inclusive sabendo evitar ou lidar melhor com
elas, ou poderemos ajudar outros que porventura passem pelo mesmo..
Mas o que mais
me alegra vem de pessoas amigas. Uma palavra boa, uma abraço por
mais rápido que seja, o calor da mão num cumprimento, a proximidade
dum corpo amigo. Porque num abraço, eu compartilho um sentimento sem
usar palavras, eu compartilho um momento, um roçar de pele, que a
outra pessoa também compartilha com maior ou menor intensidade.
Não aguardo
ocasiões especiais para expressar meu carinho por pessoas que eu
gosto. Em ocasiões especiais, pessoas esperam por presentes que se
não vierem lhes causará decepção. Presentes que virão de pessoas
que nem gostam tanto de nós, ou de pessoas que nem tem condições
para nos presentear, mas o farão por obrigação. Quantas vezes ouvi
pessoas reclamando que tiveram de dar presentes que saíram caro, no
natal, amigo secreto, aniversários. No ‘amigo secreto’ então,
pessoas sem afinidade nenhuma recebem presentes totalmente
inadequados, e reclamam ao comparar entre o que ganharam com o que
receberam.
Portanto
decidi dar presentes sempre que posso, para pessoas que realmente
gosto, sempre que eu tenha vontade.
Faço isto
sempre que posso e tenho vontade. Presentes não esperados podem ser
muito baratos e serão recebidos com muita emoção.
Há presentes,
no entanto, que não custam nada financeiramente. Uma palavra legal,
uma abraço apertado, um favor prestado a um amigo, um apoio
presencial. Neste caso quem é alvo de receber fica feliz e a mesma
ação de prestar favor pode causar em quem dá, um prazer ainda
maior.
A felicidade
sempre esteve aqui, do meu lado. Eu decidi abraçá-la agora.
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